"Devemos escrever para nós mesmos, é assim que poderemos chegar aos outros!"
Eugène Ionesco

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Am(bia)guidade

( Na aula de 17 de Setembro, realizamos um jogo de auto-conhecimento. Um colega escrevia algo sobre nós num papel, e depois tínhamos que o ir ler para a turma, iniciando depois um trabalho de reflexão sobre o que lá estava escrito. )

A Ana escreveu para mim um agradável bilhetinho, não fosse ela das pessoas que melhor me conhece; diz ela "és uma pessoa espectacular, pode-se sempre contar contigo pois és leal, amiga, honesta e sincera. gosto muito de ti assim como és! No entanto, és um pouco teimosa, e isso nem sempre é bom."


Pensando para comigo, chego à conclusão de que isto de facto é verdade... mas faltavam alguns pormenores essenciais da minha personalidade (eu desculpo a Ana, mais tarde disse que simplesmente se esqueceu de os mencionar!). É facto que eu me preocupo com as pessoas que me rodeiam, com as pessoas de quem gosto, e tento sempre estar ao lado delas dando-lhes o meu apoio. Sou também muito teimosa, sim, sobretudo quando sei que tenho razão, mas a teimosia nem é o "problema" principal.
Eu sou de signo Gémeos, e sempre me disseram que um bom Geminiano comporta-se quase como se tivesse duas personalidades. Se olhar bem dentro de mim, vejo que lá residem a Beatriz Rodrigues Cunha Ferreira Tavares, e também a “Bruxa Cornélia”.
A Beatriz encaro-a como alguém que se preocupa com os outros, que é sensível e se interessa pelos mais diversos assuntos, sobretudo os que ultrapassam o conhecimento humano. A Beatriz gosta de ler, escrever, música, também, e é mais do tipo reservado. Odeia enfrentar uma plateia, logo odeia apresentações orais de trabalhos. No entanto é alguém simples e humilde que se preocupa mais com as satisfações básicas da vida.

Mas o meu interior sofre constantemente oscilações de humor, “troca de personagens”, e pelo mais simples pormenor, a Beatriz é substituída pela Cornélia. Sim, porque situações grandes e óbvias não me provocam tanta raiva como os pequenos pormenores, aparentemente insignificantes. Então, quando isto acontece, reparo que a Cornélia se exalta, e passo a ser encarada como alguém mau. Quem não me conhece mesmo, fica com a impressão que sou alguém mesquinho e que ajo com maldade. Realmente admito que alguns dos meus actos possam passar por maldade, mas não é esse o objectivo. A Cornélia aparece sem aviso prévio e não tenho capacidade para a controlar, daí dizerem que ajo por impulso. Sim, sou extremamente impulsiva, sigo sempre os meus impulsos, bons ou maus, deixo que o coração domine a razão. Não tenho força suficiente para exercer auto-controlo. Acabo sempre por admitir os erros e pedir desculpa, mas novamente caio no mesmo erro de deixar a Cornélia acordar. É como uma luta interior. Como o anjo a falar ao ouvido esquerdo e o diabo ao ouvido direito. Porque dentro de mim existe um turbilhão de sentimentos. Nunca sinto um sentimento sozinho, vem sempre acompanhado do seu oposto. Quando amo, sou capaz de odiar a mesma pessoa. Quando gosto duma música, sou capaz de a detestar no mesmo instante. Quando me apetece dedicar a um trabalho específico, uma parte de mim sente que esse trabalho é entediante. Nunca tive um sentimento sem o seu oposto. Apesar de tudo, acho que isso seria monótono. É aqui que vem a metáfora do anjo e do diabo, a oposição de sentimentos. No entanto, perante pequenos pormenores, o diabo ganha sempre e a Cornélia acorda. Já tive muitos problemas por causa disto, sei que não é certo e que devia mudar, mas mudar a nossa personalidade é sempre difícil, principalmente quando sinto que quase não me conheço.

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