"Devemos escrever para nós mesmos, é assim que poderemos chegar aos outros!"
Eugène Ionesco

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Se eu vivesse na China...

Se eu vivesse na China...


O meu nome é Ricardo Silva, tenho 24 anos e formei-me recentemente na área da Etnologia; a minha área consiste no estudo de grupos étnicos ou sociedades vivas, observando e registando, exaustivamente, as suas características, comportamentos, costumes, crenças e cultura.
Para a elaboração da minha primeira obra de estudo decidi deslocar-me ao outro lado do mundo, para analisar a população oriental chinesa. Sendo a sua cultura o berço de uma das civilizações mais antigas e complexas, cobrindo uma história de mais de 5 mil anos, a China cobre uma vasta região geográfica com hábitos, costumes e tradições que variam bastante entre províncias, cidades e povoações chinesas, apresentando uma importante diversidade cultural e, constituíndo, por isso, um interessante objecto de estudo.
Existiram muitos grupos étnicos na China. Em termos numéricos o grupo preponderante é o Han Chinês. Ao longo da história, muito grupos étnicos foram assimilados nos seus hábitos e culturas ou desapareceram sem deixar traços.
Um dos aspectos que comecei por analisar foram os hábitos, e costumes, assim como os valores deste povo. Constatei que maioria dos valores sociais na cultura e hábitos chineses derivam do Confucionismo e Taoísmo, isto é, as religiões predominantes no país, consideradas filosofias de vida, mas que coexistem igualmente com Budismo, Islamismo e Cristianismo.
Descobri que a cultura chinesa está fortemente ligada ao culto do espíritual e da mitologia. Os chineses fazem uso dos métodos divinos para responder a questões que não podem ser explicadas e até servem como alternativa à medicina. Aliás, muitas da histórias mitológicas e religiosas deram origem a feriados tradicionais chineses, o que me chocou bastante.
Algo muito próprio da civilização oriental reside na sua escrita e no seu idioma; a escrita chinesa é baseada em símbolos que representam ideias (ideogramas), objectos, sentimentos, etc., o que se revela bastante interessante. Existem cerca de 15.000 ideogramas, o que a torna das escritas mais difíceis de aprender. O mandarim é o dialécto mais falado na china, existindo, porém, outros como, por exemplo, wu, dialéctos min, jin, xiang, keija, entre vários outros.
As artes revelam-se também um factor importante no conhecimento profundo de uma cultura. No caso na China, verifica-se que a sua arte se revela extremamente complexa e de difícil abordagem e compreensão. A estética da sua arte é baseada no simbolismo ideológico, assim como na extrema antiguidade, fundamentando-se nas crenças mágico-religiosas. Denota-se, por exemplo, nos célebres jarros chineses, que me chamaram logo a atenção e que foram uma das suas primeiras formas de arte, as cerâmicas pintadas e a arte em seda; os pintores chineses destacam, nas suas telas, as belezas naturais da China (paisagens, animais) e aspectos mitológicos, fundamentais na sua cultura.
Os chineses contribuíram, também, de forma significativa, para o desenvolvimento do conhecimento em todo o mundo; as suas principais invenções são o papel, a pólvora, o leme de navegação, o estribo, a bússola, coisas que a maior parte das pessoas desconhecem que foram criadas por este povo.
O estudo de uma étnia passa também pelo seu potencial gastronómico; confesso que acho imensa piada aos pauzinhos que os chineses utilizam como talheres, que são chamados de hashi ou fachi. A palavra em mandarim que designa os pauzinhos traduz-se por "objectos de bambu para comer rapidamente". Sendo originários da China antiga, foram, no entanto, profusamente utilizados em todo o este asiático. São célebres entre os ocidentais, pelo facto de ser extremamente complicado para nós utilizá-los. Quanto aos alimentos, os chineses utilizam muitos ingredientes, molhos (shoyu é o mais conhecido) e temperos na sua culinária. O arroz, peixe, carnes vermelhas, broto de bambú e legumes são utilizados em diversos pratos. Uma espécie de biscoito, fino e crocante, o rolinho primavera, é um dos alimentos chineses mais conhecidos no Ocidente e também uma coisa que desejaria não ter experimentado. Outros alimentos consumidos pelos chineses são a carne de cobra, escorpião, besouros e cavalo-marinho, o que, para nós, ocidentais, se revela extremamente repugnante.
Terminada a minha odisseia por este país, de carácter tão próprio e exótico, penso que reúni aspectos fundamentais para conceber uma primeira obra rica e coesa, que se revelará bastante interessante e importante no seguimento da minha carreira. Pessoalmente apreciei e desfrutei bastante do país e espero voltar futuramente.

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